quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O OBJECTIVO DE UMA OBJECTIVA SEM OBJECTIVO

Finalmente, cheguei à Cinemateca, depois de sair do Saldanha, de ter percorrido a pé a Fontes Pereira de Melo e meia Avenida da Liberdade. Entrei na Barata Salgueiro e, aqui estou eu, sentado no bar-restaurante das memórias que os fotogramas devoram com as lentes dos pigmentos mentais.
Sentado a bebericar uma água, deixei de ser quem sou, para me transformar numa objectiva, vasculhando o vazio que se impregnou em mim. Aos saltos, a objectiva assalta, meia embriagada, a memória dos olhos que me beberam a sexualidade muda, assusta-se com a penumbra que encontra, quando tenta penetrar nesse filme que se me grudou à pele, sem que lhe reconheça os lamentos do seu argumento: "Five Corners" de Tony Bill, com Jodie Foster e Tim Robbins.
A objectiva reconhece no esforço da banalidade, a grandeza de uma escolha: John Carpenter. A objectiva enlaça-se com o ritual do "The Fog", assusta-se com o remake "The Thing", desenha uma sequência de afinidades com o "The Starman", mergulha maravilhada nessa grande metáfora do "They Live", delira com a prisão imaginária de uma Nova Iorque prisioneira de si mesmo, descarrila com a fantasmagórica "Christine" e recolhe os delírios da actualidade no magnífico "Vampires" com esse excelente e mal compreendido actor James Woods.
Quem é John Carpenter?, Quem sou eu?, Objectiva sem objectivo na eloquência cinéfila de um cinéfilo perdido no fascínio de um B. A objectiva solta uma gargalhada e repara na fama dos afamados. Não sei bem porquê, mas Pavlov, objectiva-me a objectiva. É um olho de muitos olhares, é o encontro de uma duna com um arranha céus na fronteira marítima deste argumento que nada argumenta. É uma objectiva, nada mais que uma objectiva.

Cinemateca, 02/12/2009 - Jorge Brasil Mesquita

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