domingo, 6 de dezembro de 2009

NEVILLE BRODY

Durante as décadas de 80 e 90, Neville Brody foi considerado como um dos mais importantes e inovadores gráficos da UK.
Neville Brody nasceu em 1957, na Escócia e cresceu nos subúrbio nortenhos da cidade inglesa de Londres. Em 1975, entrou para a Hornsey College of Art, cuja reputação para o experimentalismo e para o debate floresceu após a ocupação estudantil de 1968. Em Hornsey, foi confrontado pelos conflitos que se geravam entre as artes de excelência e a aplicação das mesmas comercialmente. em 1976, frequentou um curso de desenho gráfico no London College of Printing. Contudo, Brody sentiu-se limitado e optou por se lançar na arena do desenho gráfico de uma pictórica e emocional.
Ao recordar as suas ambições iniciais, afirmou que "sentiu que no interior da comunicação de massas, o aspecto humano foi completamente posto de parte. Quis compreender as imagens diárias que o rodeavam naquela altura e o processo de manipulação,particularmente, no interior da arte publicitária. Ao entender os mecanismos a um nível básico, esperava produzir o efeito contrário ao interiorizá-las na mente humana."
Os seus primeiros trabalhos foram desenvolvidos nas editoras independentes Stiff e Fetish, influenciados pelo Construtivismo Russo e pela escola holandesa de De Stijl. Em 1981, foi convidado por Nick Logan da revista Face, considerada a "revista mais bem vestida do mundo"que sob a direcção de Brody se transformou na Bíblia do Estilo de toda uma geração, que em 1983foi votada a revista do ano e cognominada "o barómetro do estilo pop". Brody utilizava o desenho gráfico como o seu principal instrumento de trabalho em detrimento das fotografias e da cópia estrutural.
As técnicas de Brody rejeitavam a linearidade e o seu estilo foi sendo amplificado e desenvolvido na World Wide World. Por outras palavras,Brody desenhou a Net na página impressa, muito antes que alguém soubesse que tal existisse. Em 1984, Brody renovou graficamente a Face e no ano seguinte a Photographer´s Gallery apresentou uma retrospectiva da revista Face, enquanto Brody foi, ele mesmo, alvo de uma exposição no Victoria and Albert Museum. Em 1986, Brody desenhou a revista New Socialist que se afirmou como uma espécie de forum para a política cultural de esquerda.
Em 1990, Brody co-fundou a Fontworks, uma companhia de desenho tipográfico preparada para a era digital.
Em 1998, Brody trabalhou para a Nike, a Swatch e para o New York Museum of Modern Art.
Brody foi um inovador dos tempos modernos, mas considera-se, igualmente, enraizado nas tradições da arte pura aplicada e um violador de regras, sabendo quais as regras que foi rasgando.

Monumental Saldanha, Lisboa, 06/12/2009 - Jorge Brasil Mesquita

ACORDAR A DOR DA INOCÊNCIA

A distância não afecta
a fome de ser quem sou
um vulto que se infecta
com a raiva que negou
o vírus que nos detecta
o bobo que nos julgou
sem conhecer o profeta
que nada profetizou.

Acordar a dor da inocência
com a fuga de uma pureza
é vestir a cor da violência
co´a morte velha da beleza.

As farsas do quotidiano
são viveiros de cultura,
nacos do mito ufano
em versos de tortura
e réus de corpo insano
que viajam na tontura
de não verterem o dano
às facas do véu humano.

Ouvir as forcas do ocaso
na virgindade da nascente
é inventar o mortal prazo
à agua de uma semente.

E nada será urgente
no berço da nossa idade
nem a coragem carente
nem a fluência da verdade
roendo o caruncho vidente
que se alarga à vontade
de cobrir o nosso poente
co´o caos da Humanidade.

Centro Cultural de Belém, 29/11/2009 - Jorge Brasil Mesquita

sábado, 5 de dezembro de 2009

O MAU HÁLITO DA DEMOCRACIA

Como era previsível, o cinismo, a cobardia e a falha mental que reside nas cabeças dos que se julgam impunes e que encaram a Democracia como ma vénia à ditadura grotesca que denunciam as características das suas decisões, não se fizeram esperar, ao cortarem sem contemplações o acesso à Internet na Biblioteca de Oeiras.
Eis a realidade que não pode ser escamoteada. Os poderes lidam muito mal com as críticas e, usualmente são acolitados por outro género de cobardias, em que se apoiam, para se imporem pela força, em vez de demonstrarem elegância e sabedoria no modo como lidam com o cidadão comum. Vivem rodeados de mesuras como lhes convém e exasperam-se ao mais simples remoque. Que confiança nos podem oferecer estes simulacros de democratas que, provavelmente, se equivocaram na época em que vivem. Fingem que adoram os seus rebanhos, mas, se4 por acaso, um de entre eles, se mostrar inteligente, corajoso, certeiro na exposição das suas ideias, isto é, se na verdade demonstrar maior capacidade para ser o que o seu pastor não é, este fila-o, e elimina-o como se fosse uma ovelha negra. Este é o modo de agir dos padeiros políticos que, em vez de nos oferecerem pães democráticos, nos atiram para o esgoto da vida. Não tenho ilusões quanto aos objectivos e os fins em vista destas atitudes prepotentes. Porém, elas revelam outros sinais que assinalam a fraqueza das suas inteligências, os vómitos dos seus discursos papagueados para que os cidadãos os engulam, sem que se rebelem contra as falsidades que, constantemente, nos revelam a qualidade da Democracia que, tão enlevadamente, nos querem fazer crer que habitamos. Esta Democracia necessita urgentemente de uma reabilitação de integridade em substituição de uma mentalidade arcaica que se encontra bem frutificada, sendo necessário, entretanto, que irrompa uma lufada de ar fresco, por parte de cidadãos, livres e esfomeados, da liberdade que se conecte com uma verdadeira Democracia.
Os olhos que tudo vêm, não temem que nada lhes aconteça porque se sentem protegidos por quem devia albergar a Democracia nos seus alforges, e, em vez disso, espirram a lama em que vegetam com o maior dos deleites.
Vale a pena observar os dentes dos que se riem quando se agitam em propagandas ameaçadoras; estão afiados e esfomeados pelos circuitos abjectos dos seus domínios ilusórios. Quando se abrigam sob o arco do poder, sentem-se Sansões nos seus cantinhos de podridão, lambendo tudo o que lhes apetece, apenas com o intuito de se conservarem como conservas prontas a abrir e a consumir. Fala-se de energias limpas e de alterações climáticas, mas não se limpa a energia da Democracia e e recusam-se a alterar o clima catastrófico em que se finge pretender edificar esta farsa democrática. Os pigmeus da democracia não dormem, são os descendentes directos do canibalismo político.
Sejamos práticos na concepção incubadora desta democracia que se nos denuncia como anti-democrática, quando o incubado faz ouvir o seu grito do Ipiranga. Ai! o medo que se desfralda às fraldas funestas de uma queda inevitável no precipício da eternidade. Com ou sem pecados, todos lá irão parar, quer queiram ou não. E se não tivesse a idade que tenho, bem que me saberia dançar sobre as urnas de tão façanhudos cadáveres.

Biblioteca de Oeiras, 05/12/2009 - Jorge Brasil Mesquita

UM AVISO À NAVEGAÇÃO

A insanidade mental criminosa continua a exercer a sua actividade, circulando por aí na mais completa impunidade. Seria conveniente e fundamental começar por investigar e compreeender onde começa a verdadeira corrupção, ou senão, este país terá, certamente, um Futuro "brilhante"...

Moinho das Antas, 05/12/2009 - Jorge Brasil Mesquita

P. S. Os computadores que tenho em casa estão completamente inutilizados. Para bom entendedor, meia palavra basta...

ENXAME DE FEL

O teu perfume sabe-me a mel
mas o zumbido da abelha mestre
é o aviso do solo equestre
que derrama o enxame do fel.

O desejo que me afecta a pele
é o lacre que nasce do cipestre
e esfola o deserto campestre
com as gargalhadas da boca cruel.

Invento a noite à velha lanterna
que deprime a cama de luzerna
onde o amor é um funeral.

Nada mais resta ao fresco coral
do que os cânticos do velho imoral
que dança aos sons de quem o inferna.

Caixa das Histórias de Paula Rego, Cascais, 04/12/2009 - Jorge Brasil Mesquita

23 SKIDOO

Uma das bandas que mais me entusiasmou, nos inícios da década de 80, foram os 23 Skidoo que retiraram o seu nome do livro "Book of Lies" de Aleister Crowley.
A banda formou-se, em 1979, na cidade inglesa de Londres, por J.C.M.(Johnny) Turbull, A.U.(Alex Turnbull) e Fritz Haaman.
Depois de um primeiro 7" "Ethics", muito incipiente, aderiram, sonoramente, aos chamados sons industriais, embora prefira conotá-los com os sons das selvas urbanas, onde se encontram mixagens de sons africanos, indonésios e industriais. O grupo que foi, muitas vezes, comparasdo aos Cabaret Voltaire e aos Throbbing Gristle, sofreram, igualmente, influências dos This Heat e dos A Certain Ratio. Ao assinarem pela editora independente Fetish, beneficiaram do prazer de verem as suas capas discográficas serem tratadas graficamente por Neville Brody.
Para se perceber melhor a sonoridade dos 23 Skidoo, aterro numa das suas actuações na WOMAD, em Julho de 1982, a propósito da qual Alex Turbull afirmou "em vez de optarmos pela World Music, usámos ruídos urbanos, latas de gás e explosões. Foi uma barreira de ruídos. Um terço da assistência fugiu imediatamente, mas o que resolveram permanecer, expressaram-se com um "Wow, foi completamente surpreendente."
Da discografia dos 23 Skidoo aconselho, vivamente, o 12" "Last Words" e o mini LP "Seven Songs".

DISCOGRAFIA:
Pineaple:
Julho de 1981 - 7" - Ethics/Another Baby´s Face

Fetish:
Setembro de 1981 - 7" - Last Words/Version
Outubro de 1981 - 12" - The Gospel Comes To New Guinea/Last Words
Fevereiro de 1982 - mini LP - Seven Songs
Maio de 1982 - 12" - Tearing Up The Plans/Just Like Everybody Gregouka

Operation Twilight:
Fevereiro de 1982 - LP - The Culling Is Coming

Embora tenham gravado mais alguns 7" e um LP "Urban Gamelan", os 23 Skidoo, em minha opinião, já haviam perdido a sonoridade capilar que mais me deliciava.

Fontes: "Rip It Up and Start Again" de Simon Reynolds e "The Great Alternative Indie Discography" de Martin C. Strong.

Cascais, 04/12/2009 - Jorge Brasil Mesquita

UM PEDAÇO DE MIM

Sempre que caminho pelas ruas do tempo, sinto num recanto interior, muito bem escondido, um pequeno jardim com uma única flor plantada pelos filamentos da idade. Umas vezes acendem-se, outras, apagam-se. Nas esquinas do tempo, onde o passado anseia pelo futuro, há um osso de saudades que me recuso a roer. Nunca nos terminais do destino encontrei razões para que a flor se tenha recusado a florescer. É um jardim triste, apesar da muita música com que festejei a alegria de a ter comigo. Embora o tempo seja eterno, eu não o sou. Será que ela o será? A velhice não me apoquenta. A flor provoca-me com tratados de incompreensão.
O corpo vai adormecendo, pouco a pouco, mas ela continua, interna e sorridente, perante o desespero de não encontrar o sémen justo que seja o alimento que a desperte e me emagreça a tristeza que me enfeita os lábios das dores, flocos de neve que se vão derretendo, ao sentirem os fios solares soprarem-lhe as últimas gotas de vida. Talvez, eu seja um floco de neve que, ao derreter-se, liberte, finalmente, a glória perfumada desta flor que me desconhece e que não chora, sendo um sonho que a morte do meu tempo conduzirá, certamente, ao seu florescimento triunfal. Porém, eu não sou quem pareço, e a flor não o sabe. A bebedeira do meu último suspiro será a última melodia que remará com a brisa do tempo.

Cascais e Moinho das Antas, 04/05/12/2009 - Jorge Brasil Mesquita

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

ABUTRES SÉRIOS

para que não haja sonhos em vão
há os lábios que abraçam às vidas
os desejos que sugam as feridas
aos olhos sujos da sua solidão

as verdades e as suas mentiras são
um bailado de larvas bem tecidas
em honra de palavras mal vestidas
que circulam no caos do alcatrão

choques entre a natureza humana
e o frio glaciar da falência urbana
fantasmas que povoam os cemitérios

onde ululam os abutres sérios
que pululam nos ritos mais etéreos
p´ra celebrarem a farsa mundana.

Centro Cultural de Belém, 29/11/2009 - Jorge Brasil Mesquita

P.S. Espero que tenham percebido que o título "Abutres Sérios" é uma ironia. Um abutre é sempre um abutre, senão nunca será um abutre a sério...

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

ITALO CALVINO

Quando me lanço à leitura de certos escritores, sou, geralmente, atiçado pelos princípios dos estímulos sensoriais que se agitam no meu interior, provocados pelos seus actos de criação literária. Italo Calvino, confesso, foi paixão à primeira vista.
Italo Calvino nasceu em Santiago de las Vegas, Cuba, no ano de 1923 e faleceu em Siena, Itália, em 1985. Sendo italiano, permaneceu em Itália quase toda a sua vida, com a excepção dos 13 anos vividos em Paris, França.
Estudou em San Remo até aos 20 anos, incorporando-se na resistência contra o fascismo e contra a ocupação nazi, aderindo ao Partido Comunista Italiano que abandonou, a quando da insurreição húngara. Instalou-se em Turim, após a II Grande Guerra Mundial e ingressou na editora Einaudio, aproveitando para se licenciar em Letras e ocupando o lugar de consultor literário da mesma editora.
Na temática das suas criações literárias pode-se encontrar a coexistência do realismo com a fantasia, dando vida a uma realidade transfigurada.
De todas as suas obras, seduziram-me, além da trilogia "Os Nossos Antepassados", composta pelo "Visconde Cortado ao Meio" de 1952, "O Barão Trepador" de 1957 e o "Cavaleiro Inexistente" de 1959, os livros "Cosmicómicas" de 1965, "As Cidades Invisíveis" de 1972 e "Palomar" de 1983.
Como aperitivo literário, apresentarei pequenos resumos e alguns excertos de alguns dos livros mencionados.
"O Visconde Cortado ao Meio": um clássico da literatura fantástica em que o real e o imaginário se fundem numa unidade perfeita. A fantasia, a fábula, a ironia são um desafio contínuo à frieza inumana do mundo moderno.
"Não há noites de lua em que, nos animais perversos, as ideias pérfidas não se enredam como ninhadas de serpentes e em que, os animais bondosos, não floresçam lírios de renúncia e dedicação. Deste modo, as duas metades de Medardo vagueavam atormentadas por diferentes e opostos propósitos pelos despenhadeiros de Terralba."
"Cosmicómicas": Qfwfq, protagonista do livro conta as suas aventuras nas épocas mais remotas da história cosmológica, astronómica, geológica e biológica, afirmado ter sido testemunha ocular de todos os conhecimentos ocorridos desde o Big Bang.
"E no fundo em cada um dos olhos habitava eu, ou seja, habitava outro eu, uma das imagens de mim e encontrava-me com a imagem dela, no ultramundo que se abre ao atravessar a esfera semi-líquida das íris, o escuro das pupilas, o palácio dos espelhos das retinas, o nosso verdadeiro elemento que se estende sem margens nem confins."
"Palomar": será possível encontrarmos um sentido nas coisas do mundo à nossa volta? E dentro de nós próprios? O Sr. Palomar está muito longe de ter a certeza quanto a tudo isso. Todavia, continua à procura. O Sr. Palomar é sem dúvida o autor, mas não só. Somos todos nós os leitores deste livro.
"O Sr. Palomar caminha ao longo de uma praia solitária. Encontra poucos banhistas. Uma mulher jovem está estendida na areia, apanhando sol com os seios descobertos. Palomar, homem discreto, volve o seu olhar para o horizonte marinho. Sabe que em semelhantes circunstâncias quando um desconhecido se aproxima, as mulheres, geralmente, apressam a cobrir-se e isso não lhe parece bem; porque é aborrecido para a banhista que apanha sol tranquilamente; porque o homem que passa importuna; porque o tabu da nudez fica implicitamente confirmado; porque as convenções não inteiramente respeitadas propagam a insegurança e a incoerência no comportamento, em vez da liberdade e da fraqueza."
A conversa entre mim e o escritor Italo Calvino, talvez tenha sido longa demais, mas foi concerteza saborosa para quem apreciar leituras que estimulem os navios que nunca naufragam porque conhecem bem as rotas que traçaram.

Biblioteca de Oeiras, 03/12/2009 - Jorge Brasil Mesquita

METAL HURLANT

Um quarteto, amantes da Banda Desenhada, composto por Jean Giraud, Philippe Druillet, Jean Pierre Dionnet e Bernard Farkas fundou, em 1975, um periódico dedicado à ficção científica, entitulando-a Metal Hurlant. Com uma periocidade trimestral, a revista no seu primeiro número continha 16 páginas a cor e 52 a preto e branco, contando com as participações de Jean Giraud/Moebius (com Arzach), Philippe Druillet (com Gail), Richard Cobern e Jean Claude Gal (com Les Armées du Conquerant e cenários de Jean-Pierre Dionnert).Em 1976, a revista passou de bimestral a mensal. A Metal Hurlant ganhou importância entre os amantes da Banda Desenhada devido aos imensos talentos que foi revelando ao longo da sua vida. Em 1978, a Metal Hurlant tornou-se numa revista de temática abrangente, abandonado a exclusividade da ficção científica. Com a sucessiva partida dos seus quatro fundadores e após uma série de vicissitudes a Metal Hurlant interrompeu a sua publicação, em Agosto de 1987.

Biblioteca de Oeiras, 03/12/2009 - Jorge Brasil Mesquita

O OBJECTIVO DE UMA OBJECTIVA SEM OBJECTIVO

Finalmente, cheguei à Cinemateca, depois de sair do Saldanha, de ter percorrido a pé a Fontes Pereira de Melo e meia Avenida da Liberdade. Entrei na Barata Salgueiro e, aqui estou eu, sentado no bar-restaurante das memórias que os fotogramas devoram com as lentes dos pigmentos mentais.
Sentado a bebericar uma água, deixei de ser quem sou, para me transformar numa objectiva, vasculhando o vazio que se impregnou em mim. Aos saltos, a objectiva assalta, meia embriagada, a memória dos olhos que me beberam a sexualidade muda, assusta-se com a penumbra que encontra, quando tenta penetrar nesse filme que se me grudou à pele, sem que lhe reconheça os lamentos do seu argumento: "Five Corners" de Tony Bill, com Jodie Foster e Tim Robbins.
A objectiva reconhece no esforço da banalidade, a grandeza de uma escolha: John Carpenter. A objectiva enlaça-se com o ritual do "The Fog", assusta-se com o remake "The Thing", desenha uma sequência de afinidades com o "The Starman", mergulha maravilhada nessa grande metáfora do "They Live", delira com a prisão imaginária de uma Nova Iorque prisioneira de si mesmo, descarrila com a fantasmagórica "Christine" e recolhe os delírios da actualidade no magnífico "Vampires" com esse excelente e mal compreendido actor James Woods.
Quem é John Carpenter?, Quem sou eu?, Objectiva sem objectivo na eloquência cinéfila de um cinéfilo perdido no fascínio de um B. A objectiva solta uma gargalhada e repara na fama dos afamados. Não sei bem porquê, mas Pavlov, objectiva-me a objectiva. É um olho de muitos olhares, é o encontro de uma duna com um arranha céus na fronteira marítima deste argumento que nada argumenta. É uma objectiva, nada mais que uma objectiva.

Cinemateca, 02/12/2009 - Jorge Brasil Mesquita

PAVLOV´S DOG

Quem se recorda, ainda hoje, de uma banda com o nome de Pavlov´s Dog?. Acredito que restem muito poucos. A banda formou-se em St. Louis, no estado norte-americano do Missouri, em 1973, composta por David Surkamp, Doug Rayburn, David Hamilton, Steve Scorfina e Siegfried Carver, formação que gravou o LP "Pampered Menial" que se tornou, ao longo de todos estes anos, alvo de algum culto. Totalmente composto por temas originais e, revelando, na época em que foi editado, algumas marcas de inovação sonora, o grupo vivia muito à custa do vigor vocal e corporal de David Surkamp, a quem um dos seus poucos seguidores classificou como "um menino de coro em alta velocidade." Além deste LP, os Pavlov´s Dog gravaram, unicamente, um outro, entitulado "At The Sound Of The Bell", em 1976.
Provavelmente, a maior importância deste grupo, reside no seu nome que é uma homenagem ao fisiologista russo, Ivan Pavlov (1849 - 1936), prémio Nobel de 1904, que teve o mérito de conceber e desenvolver a reflexologia, estudo do condicionamento dos reflexos, pela qual se pode explicar toda a vida elementar, utilizando cães para executar as suas experiências que lhe permitiram alcançar as conclusões a que chegou. Pavlov encontra-se na origem do parto sem dor, segundo o método "pericoprepilático". A Educação, a Religião, a Propaganda e a Publicidade, fundamentam-se no mecanismo dos reflexos condicionados.
"A Psicologia apresenta-se-me, nas suas investigações, tal como um homem que caminha na obscuridade, empunhando uma pequena lanterna que apenas ilumina zonas muito pequenas. Compreendereis que com tal lanterna é difícil explorar toda a região. "Tudo são trevas na alma do próximo", proclama o provérbio. As novas investigações objectivas sobre os fenómenos nervosos complexos dos animais superiores permitem, ao invés, a firme esperança do próximo descobrimento, pelos fisiologistas das leis fundamentais que a espantosa complexidade desse mundo interior oculta, tal como se nos revela actualmente."
Como é evidente, este texto apenas se preocupou com uma analogia entre o nome de uma banda musical e o investigador das origens dos estudos que levaram à interpretação dos reflexos condicionados, Ivan Pavlov.

Fontes: "A Psicologia" de Denis Huisman e excertos de "Les Reflexes Conditionnels" de Ivan Pavlov.

Cinemateca, 02/12/2009 - Jorge Brasil Mesquita

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

FACETAS DE UMA ARROGÂNCIA

Muitas vezes, a arrogância disfarça uma falta de discernimento na hora das opções essenciais, oculta a fraqueza de enfrentar os poderes nucleares do desenvolvimento e revela uma grande incapacidade de relacionamento com a vulgaridade do cidadão mais comum e, aqui, escrevo com conhecimento de causa.

Oeiras Parque e Moinho das Antas em 30/11/2009 e 02/12/2009
Jorge Brasil Mesquita

PALAVRAS

Palavras
debruçam-se gota a gota
no parapeito do olhar;
espelham a vida absurda
de quem nunca soube amar.
Palavras
que mendigam a arte de nascer
na consciência da morte.
Abro o livro da minha coragem
com a esperança de a conceber,
mas a linguagem difícil de entender
deixa-me num estado de desnorte absoluto.
Caminho vacilante à beira de um abismo
onde o silêncio é a noite do dia
onde as palavras são o mutismo
da melancolia.
Procuro nos escombros da memória falida
uma noção de vida
um gesto puro de energia
que destile a poeira do dia a dia
mas nada sinto a não ser o cansaço
de uma longa e triste monotonia.
Palavras
que me consomem a criação
que me rasgam a ilusão
de não ser mais do que um traço
nos desenhos da razão.
Palavras
que habitam o primitivismo
da minha ciência muda
e vestem o analfabetismo
do meu futuro decadente
com as lágrimas de um medo permanente
medo das páginas em branco
das linhas por intuir
as frases malignas da frustração
medo da sonoridade inclemente
que não me deixa abstrair
dos parágrafos da colisão
entre um sorriso de inocências
e o choro das excrescências.
Palavras
que vestem as sombras da realidade
com os olhos certos da verdade.

P.S. Estas "Palavras" foram publicadas no jornal da Universidade Sénior de Oeiras

Oeiras, 08/05/2005 - Jorge Brasil Mesquita

UM SONHO QUE ANDA POR AÍ

Eu não sou real. Sou um sonho que anda por aí. Desconheço quem me sonha. Um sonho? Não, uma imensidade de sonhos. Cada um deles pretende preencher o vazio que navega no naufrágio de cada coração que perdeu a navegabilidade da vida que vive. São sonhos sem nomes, sem idades, passados ou futuros. Todos podem ser pescadores e pescarem nos afluentes dos seus rios as combinações das realidades que melhor preeencherem os vazios que anseiam por ser alagados com a fertilidade de serem o que não são. Não pensem em cores, nem em dias ou em noites. Flutuem no universo infinito dos meus sonhos e serão a riqueza humana da beleza com que nos abastece a natureza. Nos meus sonhos não há lugares para a tristeza, nem para a morte dos desejos que sufocam as incapacidades de se libertarem os prazeres que são as receitas prescritas destes sonhos que viajam, sem compusturas e sem elegâncias de verbalismos, gastos pelas inconfidencialidades das confidências sem sonhos. Se me virem passar por aí, sorrindo e brincando como uma criança, não se surpreendam, é, apenas, um pássaro que voa, sonhando os sonhos que aprendeu comigo, nos mistérios e nos segredos da embriaguês solar que a todos nos consolará. São sonhos que eu sonho por não ser real. Sou, simplesmente, um sonho que anda por aí.

Centro Cultural de Belém e Moinho das Antas em 01 e 02/12/2009
Jorge Brasil Mesquita

domingo, 29 de novembro de 2009

REGRAS DESTE BLOGUE

Este blogue será regido por princípios intransponíveis, baseados nas seguintes regras:
1º - eu, jorge manuel brasil mesquita serei o único e exclusivo autor e escritor de todos os posts que por aqui parecerem, protegidos pelo "código do direito de autor e dos direitos conexos", da sociedade portuguesa de autores da qual sou sócio.
2º - este blogue será inegociável: politicamente, desportivamente, económicamente, comercialmente, publicitáriamente ou por qualquer outra forma de transacções que envolvam quaisquer custos para quem quer que seja.

3º - neste blogue a liberdade de pensamento será total.

esclareço que politicamente sou de esquerda, desportivamente sou do futebol clube do porto, religiosamnete sou agnóstico e estou reformado. Estes dados pessoais estarão completamente submetidos aos 3 pontos acima referidos.

um aviso: se este blogue por qualquer razão que eu desconheça, seja privado da sua continuidade, terá como prova evidente que há poderes que fazem tudo o que podem para asfixiar quem é filho da liberdade de pensamento absoluto.

jorge brasil mesquita, 29/11/2009, Lisboa

P.S. - Convém esclarecer que todos os escritos que por aqui aparecerem serão feitos à mão. Originais são originais Os princípios agora enunciados foram exactamente os mesmos pelos quais me regi no anterior blogue "Comboio do Tempo". Convém elucidar, igualmente, que haverá textos políticos e outros géneros de temas que nada terão a ver com a política propriamente dita.

jorge brasil mesquita, 30/11/2009, Moinho das Antas